segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Só para mães

Observo como brinca no chão da sala de estar do nosso ap de faz-de-conta meu filho que está para completar dois anos de idade logo, logo. Dando funções novas a alguns objetos que o cercam, funções diferentes das usuais, ele se entretem por algum tempo abosorto. Os blocos magnéticos viram uma espécie de massa dentro de forminhas de silicone, ao que ele nomeia "fubá", referindo-se, deduzo, ao bolo que com alguma frequência fazemos juntos. Peças de lego, além de servirem para construir objetos variados que brincamos ser esculturas, quando não animaizinhos ou bonecos, automóveis, bem normal, se transformam também em "café" dentro do seu bule mágico. Noto ainda como ele começa a compreender as funções de uma ficção sempre que lemos um livro para ele. Também dá sinais de que percebe suas possíveis relações com a realidade. Outro dia mesmo, no mercado, foi um exemplo disso. Bibo, um coelho, é no momento seu personagem predileto. Apresentamos recentemente um amigo seu, Gildo, um elefante bastante corajoso, cujo um medo que tinha conseguiu superar. (As fábulas a que me refiro foram originalmente criadas pela escritora e ilustradora Silvana Rando e valem muito.) 

Quem será, no entanto, meu filho, nos momentos em que não estou junto para acompanhar seus movimentos, me pergunto. Quero dizer em ambientes socais, que há bem pouco tempo passou a frequentar com reguluridade, como a escolinha por exemplo. É verdade que antes disso já haviam os parques, alguns restaurantes, o ambiente urbano que o circunda, as depedências do condomínio, a casa dos avós, de alguns amigos e parentes, nosso próprio lar, os lugares todos que visitamos e que formam os ambientes sociais que ele desde antes da escolinha já frequentava. Bem, quando estamos juntos vejo quase tudo: presto atenção com os olhos do sentido também e mesmo assim algumas coisas às vezes me escampam, pois, humana, tenho falhas. Não tenho olhos atrás da cabeça ou um braço nas costas, menos ainda, asas nos quadris. Ao correr, feliz, ele tropeça e cai. Chora, se machuca um pouco. Não vi. Que coisas piores possam acontecer num átimo de distração, meu Deus que o livre. Repito essas palavras em quase oração sem respirar para que dentro de mim elas ganhem em densidade e frutifiquem. 

Que eu, no fim, não possa saber literalmente quem ele por inteiro é, especialmente quando não estamos juntos, faz parte do mistério que me seduz - mas não impede minha curiosidade de imaginar e questionar mesmo. Fico, bem mãe, pensando em como ele se comporta na hora do lanche com os coleguinhas na escola; se relciona bem com os profissionais da instituição; de que será mais gosta de brincar lá; quais são os gestos de que lança mão quando sugere algo para os seus mais novos amigos; que papéis assume junto à sua turminha, durante as brincadeiras; Faz birra longe de mim? Em que momentos prefere brincar sozinho; gosta de contemplar e brincar com a natureza do jardim ou passa mais tempo no parquinho, brincando  de bola, casinha, balanço? Como explora os ambientes na minha ausência? Como está vivendo a relação com os outros? Como sorri quando olha para a professora? Para essas perguntas tenho as respostas, pois nossa comunicação com a escola que escolhemos para Otto é boa. Mesmo assim, existem aspectos dele, do todo que ele é, que seguem sendo um mistério para mim. E essa é a parte fantástica da história. 

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