terça-feira, 5 de abril de 2022

A companhia de Isabel Allende

Gosto de pensar que os livros com seus personagens, cenários, contextos e escritores nos fazem companhia. E, de longe, essa não é uma ideia minha. Basta ler "Para que serve a leitura?" capítulo da obra "Ler o mundo" da antropóloga francesa Michèle Petit para ampliar esse modo de ver e perceber o quanto esta é uma ideia amplamente compartilhada por leitores. Entre outras coisas, diz Petit também que "ler serve ainda para encontrar uma força e uma intensidade que acalmam, um inesperado que faz reviver a atividade psíquica, o pensamento, a narração interior". 

Foi assim, sentindo necessidade dessa companhia peculiar que encontramos quando abrimos um livro e nos envolvemos com as palavras que eles contém, que me aproximei de "A casa dos espíritos" da escritora Isabel Allende que já ocupava um lugar em minha estante há cerca de um ano. 

Se fizermos uma busca rápida veremos que o ano da primeira publicação desta obra foi em 1982 e que também consta como livro amplamente reconhecido pelo público e pela crítica. Isabel Allende, escritora premiada, com obras traduzidas para diversos idiomas, de nacionalidade chilena embora tenha nascido em Lima no Peru, vive atualmente nos Estados Unidos (gosto sempre de me pôr a par desses detalhes também). 

"A casa dos espíritos", livro que em 1993 virou filme nas mãos do diretor de cinema dinamarquês Bille August e que conta com atores com Meryl Streep, Antonio Banderas e Winona Ryder, nasceu durante o período de ditadura chilena (1973 - 1990), período histórico em que Salvador Allende, o então presidente do Chile, foi deposto de seu cargo por um golpe de Estado. Salvador Allende era primo-irmão do pai de Isabel, o diplomata Tomás Allende. "A casa dos espíritos" é um livro marcado, portanto, por esse período da história do Chile. 

A obra que se estende ao longo de 464 páginas (tenho em mãos uma edição da "Coleção Folha - Grandes nomes da Literatura"), narra uma história que atravessa um século inteiro. O país que dá aos complexos personagens margens e um contexto geográfico tem sua identidade não revelada. O leitor sabe, no entanto, que a sucessão de acontecimentos se dá na América Latina, em algum lugar muito distante da Europa, onde está acontecendo uma guerra e da qual pouco se tem notícias. 

Inicialmente tive alguma resistência para me entregar à leitura. Estava alhures, minha capacidade de concentração focada em outro lugar. Precisava relaxá-la um pouco de modo que fosse possível desviá-la para onde, naquele momento, eu a queria. Assim, insistente, agarrando-me em cada palavra, segui o ritmo das frases, atravessando parágrafos imergi páginas adentro e logo passei  a integrar-me à obra que eu tinha nas mãos como que em processo de infusão e a li num fôlego compassado - quase sem parar.

Por um instante o clima inaugural deste livro transportou-me e trouxe à memória lembranças de Macondo, cidade fictícia de Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Marquez). Um insight passageiro que me pôs em contato com o gênero do romance de Isabel Allende, o realismo mágico. Essas pontes sempre são interessantes para quem lê, mas é coisa quase inútil dizer. 

A leitura vale muito! 

Vou deixar aqui um link com uma resenha muito boa e completa de "A casa dos espíritos": 

https://www.bonslivrosparaler.com.br/livros/resenhas/casa-dos-espiritos/5305


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