sexta-feira, 3 de junho de 2022

Da lembrança, o forno à lenha

Da cozinha aquecida lembro do forno à lenha da mãe de minha mãe. Da lenha, que áspera, com cuidado, colocávamos portinha de metal toda trabalhada a ferro e fogo adentro do braseiro. E a madeira ligeiro chamuscava. Pontinhos de brasa voavam e voltavam pro chão. Era bonito de ver. Eu me encantava equanto o fogo nos olhos brilhava. Bem ali um inferninho particular que nos servia a todos de maneiras variadas. O fogão aquecia a cozinha e no frio nos aquecíamos também. Seu crepitar sonorizava o café da manhã que era feito cedo. A labuta no campo tem um tempo todo seu que exige. Minha avó era exigida. Feita às águas com açúcar para acalmar.

Agora sento à mesa da minha cozinha também aquecida para escrever. Ainda não chegamos no inverno, mas já uso o aquecedor pela casa. Temos casas que no inverno são frias e no verão calorosas. Apesar de fazer sentido podia ser o contrário mas não é. Assim nos obrigamos a ir em busca de recursos para lidar com a situação e fazemos a economia girar, diria um capitalista. Volto à cozinha. Aqui me sinto acompanhada. De panelas? Dos ingredientes do prato que em seguida devo cozinhar? Pode ser que sim, brinco comigo mesma. Leio um poema de Adélia Prado. Trago o livro de crônicas de Nina Horta à mesa e me sirvo mais um café. 

Lá fora o trânsito do mundo que exige também faz barulho. As pessoas que correm contra o tempo, apressadas, se esbarram. E eu que não estou à espera nem nada, sentada olhando pro relógio, fico em silêncio. Penso em minha avó e a faço reviver Im Memoriam bem aqui, nesse texto, que delicado, sai de mim.  

Margaridas ou crisântemos? Flores do sítio onde morava minha avó

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