quinta-feira, 5 de maio de 2022

Os Restos & Rastros de Livia

Meu primeiro contato com Garcia-Roza foi durante a faculdade de Psicologia na primeira década dos anos 2000. Li Luiz Alfredo, textos de psicanálise, que guardei até bem pouco tempo. Redescubro agora Livia, sua esposa, escritora e também psicanalista em Restos & Rastros, um livro que contém alguns de seus pensamentos e que foi recém lançado pela editora Geração. Sinto minha vontade de leitura provocada depois de assistir ao "Estação Sabiá" no canal TV 247 do Youtube, em que a entrevistadora Regina Zappa conversa com o escritor e jornalista José Castello e com Livia Garcia-Roza. 

Percebo, ao longo da conversa, que Restos & Rastros tem coisas importantes a me dizer (gosto de criar uma relação intimista com os livros). Quem não? E faço uma encomenda. 

Já com o livro em mãos, me detenho diante dele por um tempo deixando de lado outras coisas que também preciso fazer além de ler. "Os livros que amamos guardam um poder curativo" observo a frase depois que leio "O poeta não lembra, inventa" no capítulo "A segunda chance para viver", enquanto me sobrevem o poeta Manoel de Barros e vou adiante. 

Lendo Restos & Rastros deixo-me absorver pelas páginas e lá me demoro. Ao ler o capítulo "Nossa força de reserva" rascunho no papel palavras que nunca ousei dizer em forma de poema. Me sinto fria. Calço meias e faço um chá. Volto para o sofá onde me encolho. Ainda me resta um tempo. Continuo. 

Sigo em frente com a leitura e o capítulo seguinte me aquece o olhar. Viro as páginas como se de susto em susto e penso que vou chorar mas só acho boba minha reação. Rio. Sinto uma alegria que vem acompanhada de uma sensação que dá quando se encontra algo de bom e que se quer guardar.  Livia com seus pensamentos ilumina e nos ajuda a inventar o amanhã, quando não o hoje. Sua palavra é uma graça que recai também sobre nossas lembranças, apaziguando-as se agitadas, revigorando-as, quando mortinhas. 

Vou visitar Restos & Rastros ainda mais e mais vezes. Resgatarei o que ficou para trás. Porque algo sempre fica, como palavras não ditas. Vou juntar os restos que encontrei no livro de Livia e persistir mais inteira. Notar nos rastros que a vida vai deixando um caminho a seguir. 

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