quinta-feira, 12 de maio de 2022

Termas da Imperatriz

Decido que vou me dar uma folga dos demais afazeres e termino de ler pela manhã O médico das termas de Arthur Schnitzler, indicação que me foi dada por uma querida amiga do Rio. Depois vou caminhar um pouco sob o sol do outono, que entre todos, é meu preferido. No trajeto que faço nem percebo a emergência do hospital lotado, o ar entediado da atendente da farmácia, o incessante vai e vem do trânsito barulhento, o pedaço de carne enorme no chão da calçada comido às moscas, a apodrecer. Coisas que em outro momento, se tivesse notado, me pertubariam a alma e me agitariam a mente. Mas hoje não. Me sinto olhada pelo sol e sigo. 

Penso na leitura que, em casa, acabo de fazer. No modo como fui ocupada pelas personagens de Schnitzler até me deixar preencher por elas as horas vazias, enquanto lia, como se domada. Pelo enredo, certamente. O barato dos livros é que neles muitos eventos acontecem na vida das pessoas e nem de longe trata-se de uma vida sem emoções. Nós leitores somos arrastados por elas. Somos arrastados pelas emoções que em nós os livros despertam, também enquanto lemos. Mas essa ideia não é minha. As ideias não tem dono, alías, já dizia um filósofo que há tempo não visito.  

Mas vou deixar para fazer uma resenha do livro em outro momento, até porque já existem tantas. Fazer a minha vai me ajudar a lembrar por mais tempo do Dr. Gräsler, de Katharina, da emblemática Srta. Sabine, de Friederick e da viúva Sommer. Na própria edição que levo nas mãos há no posfácio do tradutor da obra, Marcelo Backes, uma descrição dela e de seus principais personagens que podem ajudar cada leitor a ampliar sua compreensão a respeito do romance. O livro que tenho é uma edição de 2011 da Record. 

Ademais, a leitura de O homem das termas me fez nascer um desejo: quero conhecer Santo Amaro da Imperatriz, uma cidade de Santa Catarina conhecida por suas águas termais. Acho que esse pode ser um bom passeio em família. 

No trajeto
Ainda mais um pouco. 

Enquanto fazia meu exercício matinal, me ia no pensamento, sem cessar, a música A la Folie da francesa Juliette Armanett como se se oferecesse à trilha sonora da minha caminhada; ou como se quisesse me iluminar as reflexões em torno de Schnitzler. Eu a acho linda mesmo, uma bela música. Algo nela me pega. Se o ritmo, a voz aguda, a letra, não sei. Mas achei que melhor do que ali, numa caminhada qualquer, ela fosse cair no soundtrack do filme Amores Imaginários, do canadense Xavier Dolan, que eu gostei muito também quando assisti há anos. Realmente eles têm muito a ver. Ô, memória! Gostar de casar música com filme antigo, mas quem não gosta? 

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